Mykki Blanco

Em suas próprias palavras, Mykki Blanco fala sobre gênero fluido, o pioneirismo do queer rap, e por que os homens ficam ótimos com cílios postiços

EM MY BEAUTY, OS ROSTOS MAIS CATIVANTES DO MUNDO DA MODA E DA CULTURA REVELAM EM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS O QUE SIGNIFICA BELEZA PARA ELES

Com seus quase 1,90 m, Mykki Blanco causa uma boa impressão, especialmente quando está completamente montado e cantando rap freestyle pelas esquinas da cidade de Nova York, como fez memoravelmente em seus primeiros vídeos. No início de 2010, Mykki Blanco, um destemido artista performático, chamou a atenção de todos com sua música feroz e confrontadora, uma série de vídeos musicais e sessões de fotos que colocavam, ao mesmo tempo, sua sexualidade e gênero fluido em primeiro plano. Como ele explicou: antes do queer rap, direitos dos gays e o movimento trans se tornaram mais amplamente aceitos. “Eu percebo que sou um pioneiro”, acrescenta.

Agora que é identificado como um homem gay, seu fabuloso álbum de estreia do ano passado, Mykki, é seu trabalho mais aberto, honesto e pessoal, em qual ele trata todos os temas da sua vida romântica até revelar, em 2015, que é soropositivo – Mykki sendo Mykki, por outro lado, ainda tem sua quantidade considerável de músicas dançantes.

“O mundo não é o mesmo que há cinco anos atrás. Tantas coisas que as pessoas costumavam achar extremamente tabu sobre mim como artista, hoje, tornaram-se muito mais convencionais. Cultura drag queen, casamento gay finalmente tornou-se legal nos Estados Unidos...O diálogo sobre transgênero, todos os cross-dressing e aqueles que brincam com gênero se tornou algo muito público. É como se tivéssemos exemplos disso tudo na cultura da música, com artistas como Prince ou Bowie, por alguma razão, pareceu muito estranho quando eu fiz.”

“Tantas coisas que as pessoas costumavam achar extremamente tabu sobre mim como artista, hoje, tornaram-se muito mais convencionais.”

“Foi tão chocante porque era rap, e eu estava fazendo rap e não era uma piada - eu era um rapper realmente bom. Eu acho que naquela época, em 2012, as pessoas falavam 'isto é incrível', ou 'não, foda-se, isso é louco'. No começo, eu tinha algumas canções que eram realmente populares, e - se eu fosse um rapper hétero - poderia ter ido à rádio e alcançado rankings altos. Quando penso nisso, me irrito, porque me pergunto: como teria sido se eu tivesse vindo à tona com minha primeira canção, depois que o mundo já tivesse superado esses preconceitos? Ao mesmo tempo, porém, eu percebo que sou um pioneiro.”

“Em 2010 e 2011, estava passando por uma descoberta sexual de mim mesmo e eu estava me identificando como trans. Hoje em dia, eu me identifico como um homem gay. A moda me mostrou um excelente caminho para fazer isso. Então, quando me acostumei com a idéia de 'ok, acho que talvez eu seja mais um homem gay do que uma trans', uma das coisas que eu realmente queria fazer com Mykki Blanco era não apenas ter essa estética drag, mas ser realmente não convencional e ir além - algo verdadeiramente teatral.”

“Eu acho que quando as pessoas abraçam seu tipo de corpo, isso é realmente bonito. Eu verdadeiramente acho que olhos são lindos, e o que você pode fazer pelo seus olhos cosmeticamente é uma das coisas mais fortes que você pode alterar em si mesmo. Na maioria das vezes em que me maquiei para ensaios fotográficos, a forma que modificava meus olhos é o que deixa meu rosto feminino. Cílios postiços são muito importantes para mim. Eu sou toda cílios!”

“Eu realmente acho que os olhos são lindos, e o que você pode fazer pelo seus olhos cosmeticamente é uma das coisas mais fortes que você pode alterar em si mesmo….Cílios postiços são muito importantes para mim. Eu sou toda cílios!”

"Quando eu era adolescente, minha primeira personagem foi inspirada no Riot Grrl, era muito punk. Seu nome era Solnichya. Eu tinha aqueles óculos escuros bem grandes dos anos 50, um moicano louro bem descolorido e ia em brechós, pegava suéteres femininos e os transformava em um top cropped. Com uma pistola de cola quente, eu colava cabelo falso no topo da testa! Foi uma das coisas mais idiotas que eu já fiz. Minha mãe quase morreu ao saber. Até os 16 anos, eu não tinha permissão para tingir o cabelo e uma vez eu coloquei alvejante no meu cabelo, pensando que iria descolori-lo – eu nunca vou esquecer o quão doloroso foi."

Esta eleição me fez perceber o quanto priorizo algumas coisas que planejo fazer na minha comunidade. Sempre disse que quando começasse a sentir que tinha sucesso no que eu fazia, eu gostaria de comprar terras. Em alguns estados, há comunidades queer que fornecem refúgio para as pessoas que têm que se prostituir ou pessoas que vivem nas ruas. Estes são lugares secretos onde as pessoas compraram terrenos e puderam construir pequenas casas. Eu quero começar uma fazenda orgânica, onde todos a administramos juntas - nós poderíamos ter uma loja geral, talvez um bed and breakfast. Tenho essa ideia de criar uma infraestrutura queer que funcione para pessoas queer, e criar fluxos de receitas dentro disso. Esse é um dos meus sonhos.

“Quando me assumi publicamente como soropositivo em 2015… Eu fiquei tão depressivo, eu pensei que tudo o que conquistei iria terminar. E de muitas maneiras, aconteceu exatamente o oposto.”

“Quando me assumi publicamente como soropositivo em 2015, eu fiquei muito preocupado em como isso poderia arruinar minha carreira e que não poderia voltar à faculdade de jornalismo. Eu fiquei tão deprimido, pensei que tudo isso acabaria. E de muitas maneiras, aconteceu exatamente o oposto - eu chamo isso de efeito Kardashian! Hoje em dia, quanto mais pessoas souberem de algo realmente pessoal sobre você, mais eles se sentem conectados a você. Faz total sentido quando você fala sobre isso em voz alta, publicamente, mas não é como você se sente a seu próprio respeito.”
  
"Desde que falei publicamente que era soropositivo, eu tenho sido capaz de me aproximar das pessoas, e as pessoas têm sido capazes de me abordar romanticamente de tal maneira que é permitido que não existam segredos. Esse é quem eu sou. E eu sei que tenho um perfil público e isso me dá muito mais privilégios que aos milhares e milhões de pessoas soropositivas que não podem anunciar ao mundo que são HIV+, então elas ainda têm que conhecer pessoas e justificarem quem são e passar por toda essa coisa. Eu sei que sou privilegiado nesse aspecto, mas ao mesmo tempo, honestamente, fiz isso por amor.”

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